— Saiba então, meu tio, que o primo Mauricio tem o fraco de se julgar apaixonado por todas as raparigas bonitas que vê. É o seu defeito. Portanto julga-se tambem apaixonado por Bertha, que me dizem ser gentil. Parece porém que não tem sido feliz por esse lado. D'ahi os seus desafogos. Depois os planos de Jorge, mal interpretados, e as malevolas instigações d'aquellas sanctas creaturas dos nossos primos do Cruzeiro fizeram-lhe já por mais de uma vez vêr no irmão innocente um rival preferido, e ahi está. Acrescentando a isto a influencia do estado anormal em que diz que elle hontem se achava, tudo se explica. Loucuras de uma cabeça estouvada; que por o coração fico eu.
— Perde-se, perde-se — insistia D. Luiz. — Não respeitar os sentimentos mais puros! nem pelo menos lhe merecer respeito aquella pobre rapariga, que tem as mais sanctas tradições de nossa familia a protegêl-a! Nem ella! É uma infamia!
— Sabe o que tudo isto está pedindo, meu tio?
— O que é?
— É que se tire Mauricio d'aqui. Esta ociosidade perde-o. Este viver apertado no pequeno circulo da aldeia ha de acabar por suffocar n'elle as melhores aptidões e desenvolver-lhe as más. Creia. O tio deve vencer os seus escrupulos em deixar Mauricio partir.
— Lembrei-me já d'isso. E n'esse intuito a procurei. Mas pense bem, Gabriella. Engolfal-o na grande sociedade, onde os vicios e as tentações se conspiram para embriagar e seduzir a juventude, e elle em quem germinam já tão maus instinctos...
— Tem dotes de alma que lá se desenvolverão e neutralisarão os vicios e as tentações.
D. Luiz curvou a cabeça pensativo. Os seus preconceitos politicos eram muito vivazes, não cediam sem resistencia.
— Para que me deu o Senhor filhos! — exclamou elle, revoltando-se contra a sua perplexidade, e acrescentou:
— Mas a final que carreira póde elle seguir?