Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/317

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Mauricio quiz romper o contracto, Gabriella porém insistiu.

Ao despedirem-se a baroneza disse para o primo, com uma inflexão de voz que alvoroçou o coração do pobre rapaz:

— Agora provavelmente vaes procurar vêr a menina Bertha?

Mauricio respondeu expansivamente:

— Conceda-me que lhe beije a mão, prima, e correrei a encerrar-me em casa com as impressões d'esta memoravel manhã.

Gabriella concedeu-lhe o pedido e recompensou-lhe com um sorriso o galanteio.

E Mauricio foi effectivamente para os Bacellos, com o pensamento occupado pela imagem da prima.

No meio dos seus enlevos pungia-o uma ideia.

«E Bertha?» pensava elle.

A pobre Bertha, que a vaidosa imaginação do rapaz teimava em representar perdida de amores, não soffreria muito se outra lhe disputasse com vantagem a posse do coração d'elle. E não estava esse perigo imminente?

É porém de notar que esta contrariedade era um dos maiores incentivos para augmentar a chamma da sua nascente paixão por Gabriella.

Havia uma perspectiva de lagrimas e de dôres a servir-lhe de fundo do quadro, e Mauricio, sem ser cruel e compadecendo-se até de antemão do mal que suppunha ir causar ao coração de Bertha, sentia-se seduzido por a situação que creára.

Expliquem como podérem estas contradicções de caracter, na certeza de que o facto não é excepcional, antes muito da regra commum.