Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/321

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ctuosa sympathia não insinuam calor no coração. Tem umas maneiras para todas uniformemente polidas e affaveis, que excluem a ideia da menor preferencia. Pois não lhe parece?

— Os nobres sentimentos da alma tambem podem exercer algum prestigio...

— Mas valha-me Deus, Bertha, esse prestigio revela-se em taes casos por uma veneração, que não é amor. É como a que temos pelos sanctos. De virtuosos e justos que nol-os pintam, fogem do nosso nivel e temos de elevar a vista para contemplal-os; e d'esta maneira, com os olhos no céo, adora-se, mas não se ama.

Bertha, com os olhos fitos em não sei que ponto da perspectiva, não respondia e parecia engolfada na corrente de profundos pensamentos.

A baroneza, sem interromper a sua observação, continuou:

— Já assim não é Mauricio.

A abstracção de Bertha não lhe deixou reprimir um movimento que estas palavras lhe provocaram. Dir-se-ia que lhe custava a aceitar a comparação.

Gabriella, observando-a sempre, proseguiu:

— Mauricio não tem o juízo de Jorge, é verdade; porém é mais amavel. Os seus mesmos defeitos fazem com que seja possivel fital-o mais directamente, sem que o esplendor dos seus meritos nos offusgue. É um rapaz, que sem deixar de ser generoso, permanece no nivel commum, em que todos vivemos, e ahi é bem mais facil amal-o.

Bertha escutava quasi distrahida; só passados instantes, depois das ultimas palavras da baroneza, foi que rompeu o silencio, dizendo vagamente:

— São ambos duas almas generosas e merecedoras de estima.

— De certo — insistiu a baroneza. — Mas, minha querida Bertha, eu não sei se lhe succede o mesmo... mas em geral estes rapazes serios e de juizo, como Jorge, intimidam-nos a nós outras, mulheres; não ousamos fital-os com um olhar de sympathia, com medo de que