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— É verdade. Andava anciosa por conhecêl-a. Adivinhava-a pela impressão que via causar em quantos se aproximavam de si. O tio Luiz fallava-me de Bertha com uma ternura a que já é pouco sujeito; Mauricio com um enthusiasmo de apaixonado; e Jorge....

Gabriella fez aqui intencionalmente uma pausa, durante a qual estudou a physionomia de Bertha.

Esta baixára-se, como para cortar uma malva do chão, mas nas faces estendia-se-lhe um rubor fugaz, que denunciava um intimo alvoroço.

— E Jorge — concluiu a baroneza — com aquelle modo apparentemente frio que tem para dizer todas as coisas, mas em termos que exprimiam bem a sua estima por a pessoa de quem fallava; d'aqui o meu desejo de conhecêl-a; não me admiro agora de todo aquelle effeito, porque eu mesma o estou sentindo já.

Bertha sorriu, agradecendo-lhe o comprimento.

— Creia-me, Bertha. Conhecemo-nos de pouco, mas olhe que sou já sua amiga e talvez possa ainda mostrar-lh'o um dia.

— Agradecida, snr.ª baroneza.

— Não tome esse tom de ceremonia para me fallar. O que eu digo não é um comprimento. Sabe que mais, Bertha? Talvez que pouca gente esteja tão adiantada no conhecimento do seu coração como eu, depois d'esta nossa primeira e curta entrevista.

Bertha córou d'esta vez intensamente, e olhando para Gabriella com um olhar assustado, balbuciou quasi tremula:

— Do meu coração?... Por ventura...

— Não se assuste. Não quero fallar mais nisto emquanto não me conhecer melhor. Só lhe digo que eu não passo de uma pobre mulher com bastante coração e com o grau de loucura preciso para me enthusiasmar pelo partido dos sentimentos generosos e sinceros, quando luctam com as convenções e os preconceitos sociaes. E agora deixe-me mostrar-lhe um grupo de cavalleiros que estou d'aqui vendo, e que talvez o seu olhar melhor possa distinguir do que o meu.