Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/334

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— Que queres tu, homem? Se elles nem para si mesmos são bons! Aquillo nos Cruzeiros é uma cama de tres javalis, qual d'elles mais selvagem. Que se póde esperar d'aquella gente?

— Mas teem quem os attenda, que é o que me faz zangar. Uma authoridade descer áquellas baixezas e andar ahi a receber o beija-mão d'aquelles senhores! Isto, isto, a fallar a verdade, parece-me... nem eu sei o que me parece.

Jorge esteve algum tempo sem retorquir, absorvido pelo exame de um papel que encontrára no masso. Depois, tomando á margem uma nota a lapis, e pondo o papel de lado, ponderou vagamente:

— Coisas d'este mundo, Clemente; que remedio senão aceital-o assim?

— Isso é que é verdade.

— E lá por casa como vão? Tua mãe?

— Bem; foi ella quem me aconselhou esta visita.

— Sim? Então já não t'a agradeço.

— Eu, a fallar a verdade, como sei que tem o tempo muito occupado, receio...

— Ora deixa-te de tolices. Se por acaso estivesse tão occupado que me não fosse possivel receber-te, com a maior franqueza t'o diria. Bem sabes que entre nós não ha etiquetas.

— Pois eu vinha para pedir-lhe um favor.

— Terei muito prazer em te servir — respondeu Jorge, levantando-se para procurar novos papeis na secretaria e voltando a sentar-se á banca, sempre entretido no seu trabalho.

— Como sabe, pedi a minha demissão e estou agora resolvido a viver em minha casa, e a occupar-me sómente dos meus negocios.

— É justo. E quem bem trabalha no que é seu, tambem trabalha no que é de todos — ponderou Jorge emquanto executava uns calculos arithmeticos.

— Ora, para fazer a vontade a minha mãe e tambem por me sentir com inclinação para isso, estou meio decidido a...