— A filha do Thomé da Povoa! — repetiu Jorge estupefacto.
— Sim — tornou Clemente, interpretando erradamente aquelle espanto — a filha do Thorné da Povoa, do Thomé da Herdade... Bertha, a que foi educada em Lisboa e que voltou ha tempos...
— Bem sei — atalhou Jorge com impaciencia — mas... Bertha...
E acrescentou quasi sem consciencia do que dizia:
— Bertha da Povoa... mas... mas como te lembraste agora de Bertha sem mais nem menos? É singular!
— Como me lembrei agora? Mas não foi agora que me lembrei. Eu já tinha penâado n'isso. É a noiva que eu proprio...
— Pois sim, mas... Como te deu logo para pensar em Bertha da Povoa? É o que pergunto.
— Ora essa! Em alguma havia eu de pensar. Se não fosse n'ella, seria em outra. Succedeu ser em Bertha. Coisas do coração...
— Ahi vens tu já com o coração — acudiu Jorge com mal reprimido despeito. — Vossês fallam no coração a proposito de tudo. E até agora então, que andavas todo influido com a tua regedoria, não te importaste com o coração, nem elle te dizia nada... Ora adeus! O coração!...
E erguendo-se da banca com certa agitação, que estava espantando Clemente, pôz-se a passeiar no quarto, e tão convulso que não conseguia preparar um cigarro, que mal sustinha nas mãos.
Clemente allegou:
— Eu não digo que isto seja uma paixão muito forte, uma paixão por ahi além; mas, resolvido a tomar estado, pensei na noiva que me conviria e lembrei-me de Bertha. É uma boa rapariga, bem educada e de alguns haveres...
Jorge cortou-lhe a palavra:
— Ah! então dize-me d'isso. Agora já entendo por que te lembraste de Bertha. Devias principiar logo por ahi. De alguns haveres! Ahi é que está a questão. Vossês