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— De Thomé sei eu que approvaria o casamento, porque já o disse a minha mãe.

A estas palavras cresceu outra vez a irritação de Jorge.

— Então já é negocio tractado? Os paes fallaram-se. Está dito tudo. É o absurdo costume cá da terra. Provavelmente vão exercer pressão sobre a pobre rapariga, que se sacrifica para fazer a vontade á familia. Olha, sabes que mais, Clemente, isso não é bonito. Para que hei de estar a dizer o contrario? Não é bonito. Nem eu te quero dizer tudo o que penso d'isso.

— Mas, valha-me Deus, eu estou devéras admirado de vêr o juizo que o snr. Jorge faz de mim! Pois imagina que eu consentiria em casar com alguma mulher contra vontade d'ella?

— Tu é que disseste que tua mãe e Thomé já se entenderam — observou Jorge, continuando a passeiar no quarto.


— Disse que fallaram n'isso e que elle não desapprovára. Mas o snr. Jorge conhece o Thomé e por isso sabe que elle não é homem capaz de obrigar a filha. Deus me livre de imaginar tal! Mas emfim vejo que o snr. Jorge não approva a minha escolha; eu respeito-o muito e não quero ir contra o seu parecer. Direi a minha mãe...

Jorge acudiu com vivacidade:

— Não, não. Eu não desapprovo. Essa é boa! Que tenho eu com isso? Segue lá o teu destino. E se fores feliz... tanto melhor. Eu sou teu amigo, desejo a tua felicidade. Anda... tenta... nada perdes em tentar. Emfim... eu não tenho objecções a pôr... só me parecia que... Mas emfim, anda para diante.

— Pois sim, mas... eu desejava que o snr. Jorge fosse quem fallasse.

Cresceu a impaciencia a Jorge.

— Não, não, isso é que não. Perde isso da ideia. Que lembrança! Eu fallar! E porque hei de ser eu? Que tenho eu com isso? Conheço o Thomé, não conheço a filha. Que me importa a mim saber se a Bertha te quer