Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/339

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para marido, ou se não quer? Era até ridiculo. Mas como te lembraste de mim para esse emprego?

— Foi minha mãe quem me aconselhou.

— E porque não vae ella? Assim como tractou com o pae, que tracte com a filha. Quem quer negociar casamentos para os filhos não incumbe a estranhos parte da missão.

— É porque minha mãe julgava que o snr. Jorge não era para nós de todo em todo um estranho — murmurou tristemente o collaço de Jorge, a quem a imprevista maneira por que fôra acolhido por este tinha deixado em profundo desconsôlo.

Estas palavras de timida censura e a maneira branda e resignada com que foram ditas, commoveram Jorge e abateram a tempestade que lhe perturbára a habitual serenidade do seu espirito. Fazendo um esforço para dominar os despeitos que ainda sentia revoltos no coração, disse com maior placidez, apertando a mão de Clemente:

— E julgava bem tua mãe. Eu não posso ser para vós um estranho, nem vós para mim o sois. Farei o que desejas. Não faças caso das minhas palavras. Tenho andado um pouco impertinente estes dias por causa de certos negocios, e por isso fallei ha pouco mais vivamente. Desculpa. O teu projecto é razoavel, eu fallarei n'elle a Thomé. Que duvida? O que não prometto é servir-me de qualquer influencia que tenha sobre elle, porque... porque emfim... tenho escrupulos.

— Nem eu quereria que o fizesse. Basta que lhe exponha o caso; que lhe diga que estou resolvido a casar, e sentindo amor...

— Será melhor não fallarmos em amor — atalhou Jorge com renascente impaciencia — porque afinal, Clemente, vendo as coisas como ellas são, tu não amas Bertha.

Ao olhar espantado com que foram acolhidas estas palavras, Jorge respondeu já com mais força:

— Não amas, homem, não amas. Talvez estejas persuadido de que a amas, mas não ha tal amor. Desenga-