Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/340

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na-te. Isso em ti é um projecto frio, pensado, no qual só achaste vantagens e portanto resolveste adoptal-o. Tens considerações por Bertha, entendes que podes estimal-a; mas amor é outra coisa. Deixemos porém isto. Fica decidido, eu fallarei a Thomé e dar-te-hei a resposta.

— Agradeço-lhe, snr. Jorge. Mas veja lá, se lhe custa...

— Porque ha de custar? Ora essa! Se fallo quasi todos os dias com o Thomé. Em logar de conversarmos no tempo que faz, ou no estado das terras, conversaremos n'isso. Sim, porque para mim é um assumpto como outro qualquer, O casamento de Bertha é um assumpto em que eu posso conversar com Thomé, naturalmente. Pois que tinha eu com o casamento de Bertha? Eu não sou irmão d'ella. Estimo-a, é verdade, mas... o que é certo é que... é que me não compete importar-me com o casamento de Bertha. Já vês então que não me póde ser custoso fallar n'isto ao pae... Pois porque te parecia que me havia de custar?

E Jorge dizia tudo isto com uma volubilidade e com uma inquietação que admirava Clemente.

— A mim? Por nada — respondeu este. — Eu dizia que no caso de não querer.

— Mas porque não? Fallo. Não tenho a menor duvida. Ámanhã dar-te-hei a resposta. Adeus. Agora peço-te licença para examinar umas contas.

— Eu retiro-me.

— Então adeus. E vae descançado; hoje mesmo tractarei d'isso. É uma coisa tão simples! Pois não te parece que é uma coisa simples? Sim, porque bem vês que eu nisso não tomo parte activa. Por acaso tinhas algum motivo para suppôr...

— Nenhum.

— Mas parecia que julgavas que eu tinha algum motivo... talvez...

— Eu não julgava tal — respondia Clemente cada vez mais espantado com a insistencia de Jorge, tão singular pelo menos como a sua primeira irritação.