Entrando na Herdade para cumprir a promessa feita a Clemente, Jorge encontrou o fazendeiro, que havia pouco tempo voltára de visitar os campos, sentado á modesta banca do seu escriptorio, examinando com attenção os livros de assento e algumas cartas que recebêra.
Usando da familiaridade, com que era recebido n'aquella casa, Jorge entrára sem se mandar annunciar.
— Olá! viva o snr. Jorge — exclamou o lavrador, voltando-se ao rumor de passos que ouvira — venha cá, venha, que temos novidade.
— Então que ha? — perguntou Jorge, sentando-se defronte d'elle.
— Vamos a saber. Teve cartas do Porto?
— Não.
— Hum! É o que eu digo. Se está á espera de que os advogados lhe escrevam, bem tem que esperar. Aquelles senhores, sahindo do escriptorio, não pensam mais nas demandas nem nos clientes. Olha quem. Eu cá entendo-me com os procuradores e não me dou peior. Ora leia.
E passou para as mãos de Jorge uma carta, na qual de facto o procurador lhe dava lisonjeiras informações relativamente ao pleito que a Casa Mourisca sustentava. A questão tomára uma face nova, depois da juncção ao processo de certos documentos de importancia, e o parecer dos juizes era favoravel, segundo o que podia conjecturar o procurador, forte n'estes prognosticos.