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A noticia não podia ser indifferente a Jorge. A boa solução d'esta demanda facilitaria consideravelmente os seus projectos economicos; e poderia depois tentar mais desembaraçado e com mais efficacia os expedientes que a sua meditação e a experiencia de Thomé lhe suggeriam.

— Então que diz a isso? — interrogou o fazendeiro.

— É devéras uma feliz nova.

— Diga-me agora se ha de ou não vir tempo em que aquella casa negra tornará a ser o que foi.

— Espero que Deus me conceda essa ventura.

— Agora é necessário escrever para Lisboa para apressar o negocio, e com relação áquelles titulos, que parece não estarem muito na ordem, recommendo-lhe este procurador, que é homem diligente e seguro.

— Era já minha tenção fallar-lhe n'elle. Deixemos porém agora esta materia, porque outro grave motivo me trouxe aqui e tenho pressa de me desempenhar da missão.

— Olá! Motivo grave! Pelo modo de dizer parece que se tracta de coisa de polpa.

— Não é de pequena gravidade, não — insistiu Jorge — e se quer que lhe falle a verdade, Thomé, não me é agradavel a incumbencia.

— Vá lá. Estou d'aqui a adivinhar o que é. Temos algum recado do pae. O snr. D. Luiz sabe invental-as de bom feitio. Ás vezes tem lembranças! Mas eu já estou prevenido para tudo, venha mais essa. Diga lá.

— Não, Thomé, não se tracta de meu pae. E não cance mais a cabeça, que por certo não adivinha, e eu, em duas palavras, ponho-o ao corrente de tudo. O Clemente, o filho da Anna do Védor, procurou-me ha poucas horas para me pedir que me encarregasse de ser o seu mediador em uma pretenção que elle tem dependente de Thomé.

— De mim?! Deve ser bem exquisita para que o rapaz não venha em pessoa fallar-me. Então não somos nós amigos?

— Ha delicadeza da parte d'elle n'isto, porque a pretenção de que se tracta é de certo melindre. Em uma