Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/351

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Mas isso não tira. Tu é que deves dizer se elle te agrada para marido.

Bertha baixou, durante alguns momentos, os olhos e não respondeu. Depois ergueu-os e fitou-os em Jorge, como a procurar-lhe penetrar no pensamento; a final com voz já mais firme, mas commovida ainda, disse:

— Visto que foi o snr. Jorge quem se encarregou d'essa proposta, parece-me ter direito a pedir tambem a sua opinião a respeito d'ella.

Jorge estremeceu e olhou para Bertha de uma maneira que denunciava um intimo sobresalto.

— A minha opinião? — repetiu elle, sem saber o que dizia.

— Sim, o snr. Jorge é amigo de meu pae, e julgo que meu amigo tambem. Não ha de querer vêr-me infeliz. Encarregando-se de dar o passo que deu, é de certo porque julga que eu poderei encontrar a felicidade, seguindo o caminho que me facilita assim. A sua lealdade obriga-o a dizel-o francamente, se assim o pensa. E eu atrevo-me a exigil-o da sua lealdade.

— Eu apenas cumpri a missão de que me encarregaram, mas não aconselho — balbuciou Jorge.

— O snr. Jorge é demasiado sincero na sua amizade a meu pae para aceitar essa missão de um homem de quem receiasse que me podia vir a infelicidade. Quero acredital-o.

Jorge irritou-se; irritou-se contra si por a turbação que sentia, e contra Bertha, por suspeitar que era o amor a Mauricio que lhe estava dictando aquellas palavras; por isso respondeu com o tom ironico do costume:

— Não duvido affirmar que o Clemente é um excellente rapaz, que póde fazer feliz qualquer mulher que não aspira a mais do que á estima leal e sincera de um homem de bem. Vejo em Clemente garantias de que dará a uma esposa de ideias razoaveis aquella felicidade que consiste na paz domestica e no amor da familia. Mas eu não sei se isto satisfará a toda a gente. Ahi está que as educações modernas fazem ás vezes o espirito das