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— Porém meu pae?...

— Não sei o que lhe faça, primo. Pensa n'isso a vêr se até á hora da partida me lembras alguma solução. Eu não acho.

A baroneza retirou-se poucos momentos depois apparentemente dissuadida da sua primeira ideia.

Chegando porém ao seu quarto, sentou-se á secretária, e preparando uma folha de papel escreveu com a sua miuda calligraphia o seguinte:

«Meu caro snr. Thomé da Povoa.

Sou obrigada a partir hoje para Lisboa. Deixo meu tio muito doente e muito sentido pela minha falta. Na idade em que elle está e nas suas tristes disposições de espirito dá-se muito apreço aos cuidados de uma mulher. A minha ausencia deixa-o tão só e tão sem conforto, que receio dos effeitos d'ella. Sei quaes os ardentes desejos de vingança que o snr. Thomé tem contra meu tio e a indole dos actos com que os satisfaz, e por isso julguei dever dar-lhe estas informações, para que se vingue a seu modo.

Sua muito respeitadora

Gabriella

E depois de lêr o que escrevêra, principiou a dobrar cuidadosamente a carta, murmurando:

— A bom entendedor meia palavra basta.

E ao lacrar e ao escrever o sobrescripto, dizia sorrindo:

— O primo Jorge que tenha paciencia e tome contra si proprio as precauções que quizer.

Depois tocou a campainha e mandou expedir quanto antes a carta a Thomé da Povoa. E na sequencia dos seus pensamentos murmurava:

— E se o acaso lhe der para fazer das suas, lá se avenham. Eu lavo d'ahi as mãos.

E foi proceder aos preparativos da sua jornada nas mais joviaes disposições de espirito.