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— Tem a bondade de me deixar só por um pouco, snr. frei Januario?

O padre sahiu do quarto, encolhendo os hombros.

D. Luiz tornou a lêr a carta, carregando-se-lhe de mais sombria tristeza o semblante, e deixou-se cahir desalentado nos travesseiros.

E ninguem lhe ouvia aquella manhã tocar a campainha a chamar um criado para que lhe prestasse qualquer serviço que o seu estado de saude exigia, e se um ou outro, mais cuidadoso, espontaneamente se apresentava a receber-lhe as ordens, era despedido com rudeza, recahindo elle na especie de somnolencia em que depois da leitura da carta havia ficado.

Ao meio dia, porém, hora em que a baroneza costumava por suas proprias mãos servir-lhe algumas colhéres de gelêa e um calix de vinho do Porto, sentiu que lhe abriam mansamente a porta do quarto, com a mesma cautela, com o mesmo cuidado com que o fazia Gabriella.

Deu-lhe rebate o coração, e no meio dos tristes pensamentos que o acabrunhavam, fez-se um clarão de esperanças. Voltado com as costas para a porta, D. Luiz não pôde conhecer logo a pessoa que entrava, por isso perguntou com uma voz, era que se denunciava o intimo sobresalto que estava sentindo:

— Quem vem ahi?

Ninguem lhe respondeu; mas percebeu claramente o som de uns passos leves, que não podiam deixar de ser de mulher.

— Quem está ahi? — repetiu D. Luiz, fazendo um esforço para voltar-se.

Mas n'este momento parava defronte d'elle Bertha, com um sorriso nos labios, e segurando nas mãos a bandeja com o calix de vinho e a gelêa, que a baroneza costumava servir-lhe.

D. Luiz olhou para a afilhada com a expressão da maior surpreza e espanto.

— Bertha! — exclamou elle, solevantando o corpo — Bertha aqui?!