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Aquella grande sala vazia, aquella extensa mesa, apenas servida com quatro talheres, fallava tanto do esplendor passado e da decadencia presente, que poucos logares havia na casa que deixassem no fidalgo mais melancolicas impressões. Nunca se lhe anuviava tanto o coração como ao sentar-se á cabeceira da mesa, em torno da qual outr'ora vira rostos conhecidos e amigos, hoje tão solitaria e abandonada.

D. Luiz, reparando que o escudeiro principiava a servir, perguntou, apontando para os logares dos filhos, que ainda estavam de vago.

--Então os senhores não ouviram a sineta?

--Os senhores ainda não vieram.

--Nem Jorge?--perguntou D. Luiz, como se estranhasse menos a ausencia de Mauricio.

--Nem um, nem outro.

--O snr. D. Mauricio--observou o padre, que temia um adiamento do jantar--sahiu para a caça; quando virá elle agora?

E dizendo isto, fazia signal ao criado para que servisse o fidalgo.

--E Jorge?--insistiu o pae.

--O snr. D. Jorge... esse não sei... talvez esteja ahi por alguma parte.

O fidalgo, evidentemente contrariado com a ausencia dos filhos, que ainda mais augmentava a solidão d'aquella sala, resignou-se a principiar a jantar sem elles.

O jantar correu em silencio.

O humor negro de um dos commensaes e o appetite do outro não davam azo ao dialogo.

Estava o padre deliciando-se com uma farta posta de assado e o competente accessorio de massas, quando Jorge entrou na sala.

D. Luiz não lhe dirigiu a palavra, nem sequer um olhar.

Jorge formulou uma vaga desculpa, que o pae interrompeu com um gesto a mandal-o sentar; e, passados momentos, levantou-se elle e sahiu silencioso.

Frei Januario, tendo já satisfeito as primeiras e mais urgentes exigencias do seu estomago, achou-se disposto