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correram, longos para a impaciencia do fidalgo, antes que os dois rapazes chegassem ao logar onde elle os esperava, escutando com estranheza aquelles passos, sem poder conjecturar de quem fossem.

A final proximos da cadeira do pae, pararam e guardaram por instantes silencio.

A fronte descoberta ficava-lhes alumiada pelo luar, e recebia d'aquella mysteriosa luz uma singular expressão de gravidade.

D. Luiz, reconhecendo os filhos, olhou fixamente para elles e perguntou-lhes admirado:

--O que é que pretendem?

Jorge foi o que respondeu.

--Se v. exc.ª nos quizer ouvir, meu pae, desejavamos fallar-lhe.

--Fallar-me?!--repetiu D. Luiz, em tom de espanto e quasi irritado.

--Sim, senhor.

--É singular! E a proposito de quê?

--Do nosso futuro.

--Ah!--exclamou o fidalgo, procurando encobrir em ironia a sua crescente irritação.--Deram-lhe para pensar n'elle agora pelo luar.

--Penso n'elle ha muitos dias, meu pae. Ha muitos dias que elle me inquieta.

D. Luiz fez um movimento, que immediatamente reprimiu, e passou a interrogar Mauricio, no mesmo tom de affectada ironia:

--Tambem te atacaram as mesmas inquietações pelo futuro?

--Ha menos tempo, mas com maior fundamento talvez--respondeu-lhe com firmeza o filho interrogado.

D. Luiz calou-se por alguns instantes, depois tornou para Jorge:

--Então vejamos a causa dos teus receios, saibamos o que te trouxe aqui.

E principiou a tocar nervosamente com os dedos nos braços da cadeira.

--Meu pae--principiou Jorge--perdoe-me a liberdade que tomo de fallar n'isto a v. exc.ª; mas é o em-