D. Luiz esperou alguns instantes pela resposta do filho mais novo, mas, como o visse hesitar, continuou, encolhendo os hombros:
--Ainda não pensaste n'isso. Bom. Ouçamos então primeiro teu irmão. Visto isso achas tu que, sob a tua gerencia, a administração de nossa casa prosperaria?
--Creio que não iria peor conduzida do que vae. V. exc.ª conhece perfeitamente que não será grande façanha ir tão longe como frei Januario.
--É um homem experiente.
--Triste resultado o da experiencia. O pae deve, melhor do que nós, saber o estado dos negocios d'esta casa; mas quer-me parecer que não me enganarei muito, conjecturando a maneira por que elles vão. Pedir emprestado sob encargos e hypothecas pesadissimas, não para melhorar o que ainda possuimos, mas para consumir o pouco que se obtem em gastos improductivos, lavrar arrendamentos com que o senhorio nada lucra e com que a propriedade se empobrece, deixar ao desprezo terras não arrendadas, é a pratica até hoje seguida, tão facil como funesta.
--E quem te disse que é possivel fazer outra coisa?--objectou já sem ironia o pae.--Os tempos actuaes são de prova para familias como as nossas, a maré que sobe traz á flôr da agua o que era lôdo em outros tempos.
--Deixe-me tentar, meu pae.
--Tentar o que? criança. Queres ser enganado e escarnecido por esses manhosos proprietarios e rendeiros, com quem infelizmente temos de lidar? Que sabes tu da administração dos bens ruraes?
--Aprenderei. A sciencia, patente ás faculdades de frei Januario, não é defeza a ninguem.
--Nem tu sabes o que pedes. Não córarias de vergonha no tracto familiar a que esses negocios obrigam, com homens grosseiros, insolentes, miseraveis de hontem, e que hoje nos atiram á cara com a sua riqueza?
--Procuraria d'entre esses os de mais educação.
O velho encolheu os hombros com impaciencia, murmurando: