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Jorge--e ainda por occasião do fallecimento de Beatriz...

--Sim, bom coração tem ella. Mas a sociedade em que vive, desde que casou e depois que viuvou, tem-lhe feito adquirir as qualidades da época. Não se lembra de que seu pae foi um militar, que morreu com as armas na mão a favor da causa legitimista. Hoje conta os seus amigos entre a gente, que a fez orphã.

--Deve perdoar-se a uma mulher essa fraqueza. Ella não tem coração para odios. Bem o sabe. Parece-me comtudo que, apesar das suas apparencias frivolas, tem um fundo de bom senso d'onde póde sahir um aproveitavel conselho. Falle-lhe v. exc.ª com franqueza, diga-lhe quaes as condições sob que entende poder Mauricio entrar na sociedade, onde vivem sem apostasia muitos adeptos da antiga causa, e eu creio que ella o comprehenderá e lhe dará as informações pedidas.

Ainda n'isto se deixou convencer D. Luiz pela eloquencia do filho. Jorge sabia que a prima era uma mulher de influencia no mundo politico e elegante, e esperava que a reconhecida diplomacia d'ella conseguisse aplanar as difficuldades, em que naturalmente se embaraçariam o orgulho e a paixão partidaria do fidalgo. E para assegurar melhor o resultado que esperava, resolveu elle proprio escrever-lhe confidencialmente.

Quando o pae e os filhos se separaram, achava-se em todos os seus artigos sanccionado o projecto de Jorge.