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sivamente examinava, e assim os punha de lado para segundo exame ou os guardava como vistos.

Dentro em pouco tempo entrou a ordem no cahos, e Jorge passou a mais minuciosa revista.

Frei Januario já se sentia um tanto incommodado com o andamento que ia vendo ás coisas, e insensivelmente foi tomando uma posição mais discreta e fugiu-lhe do rosto o ar malicioso com que até alli observára Jorge.

O peior não tinha principiado ainda.

Jorge acompanhou o segundo exame, a que procedeu sobre os papeis de importancia, de uma serie de perguntas, que embaraçaram sobre maneira o padre. Reconheceu então que o filho de D. Luiz não era a criança que elle suppozera, que via mais claro n'aquelles negocios do que elle proprio, com toda a sua experiencia, e que a conferencia, na qual esperava dar uma memoranda lição ao impertinente discipulo, podia muito bem terminar com notavel desvantagem do mestre.

Ao principio do fogo cerrado de questões e objecções, o padre tentou entrincheirar-se atraz de evasivas, tractando o caso jovialmente, mas teve de abandonar essa tactica, diante do tom e aspecto de seriedade varonil, com que Jorge lhe insinuou:

—Snr. frei Januario, eu não vim aqui para brincar, nem o assumpto da nossa conversação é digno d'essas jovialidades. Sou um dos futuros herdeiros d'esta casa e quero saber como ella tem sido administrada até agora.

O padre experimentou a arma da dignidade offendida.

—Então quer dizer que desconfia de mim?… e instaura-me um processo?

—Peço-lhe por favor que não venha com isso outra vez. Ninguem o accusa, já lh'o disse. Peco-lhe só esclarecimentos sobre o passado, para poder caminhar para diante.

Frei Januario acabou por se convencer de que não havia fugir á sabbatina. Não lhe foi suave tarefa aquella.

Jorge pela primeira vez lhe fazia vêr os erros de officio que elle commettêra, a imprudencia com que diri