Página:Os Maias - Volume 1.djvu/127

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
117

da livraria, sem lhe largar a beira do catre, fazendo diagnosticos que o bom dr. Trigueiros escutava respeitoso e pensativo. Diante do avô já chamava mesmo ao menino «o seu talentoso collega».

Esta inesperada carreira de Carlos (pensára-se sempre que elle tomaria capello em Direito) era pouco approvada entre os fieis amigos de Santa Olavia. As senhoras sobretudo lamentavam que um rapaz que ia crescendo tão formoso, tão bom cavalleiro, viesse a estragar a vida receitando emplastros, e sujando as mãos no jorro das sangrias. O dr. juiz de direito confessou mesmo um dia a sua descrença de que o snr. Carlos da Maia quizesse «ser medico a sério».

— ­Ora essa! exclamou Affonso. E porque não ha de ser medico a sério? Se escolhe uma profissão é para a exercer com sinceridade e com ambição, como os outros. Eu não o educo para vadio, muito menos para amador; educo-o para ser util ao seu paiz...

— ­Todavia, arriscou o dr. juiz de direito com um sorriso fino, não lhe parece a v. exc.ª que ha outras coisas, importantes tambem, e mais proprias talvez, em que seu neto se poderia tornar util?...

— ­Não vejo, replicou Affonso da Maia. N’um paiz em que a occupação geral é estar doente, o maior serviço patriotico é incontestavelmente saber curar.

— ­V. exc.ª tem resposta para tudo, murmurou respeitosamente o magistrado.

E o que justamente seduzia Carlos na medicina era essa vida «a sério», pratica e util, as escadas