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OS MAIAS

dos Productos, o que montava Jupiter, ainda de botas, com um paletot alvadio por cima da jaqueta de jockey, furioso, perdido, injuriando o juiz das corridas, o Mendonça, que arregalava os olhos, aturdido e sem uma palavra. Os amigos do jockey puxavam-n’o, queriam que elle fizesse um protesto. Mas elle batia o pé, tremulo, livido, gritando que não se importava nada com protestos! Perdera a corrida por uma pouca vergonha! O protesto alli era um arrocho! Porque o que havia n’aquelle hyppodromo era compadrice e ladroeira!

Individuos, mais serios, indignaram-se com esta brutalidade.

— ­Fóra! Fóra!

Alguns tomavam o partido do jockey; já aos lados outras questões surgiam, desabridas. Um sujeito vestido de cinzento berrava que o Mendonça decidira pelo Pinheiro, que montava Escossez, por ser intimo d’elle; outro cavalheiro, de binoculo a tiracollo, achava aquella insinuação infame; e os dois, frente a frente, com os punhos fechados, tratavam-se furiosamente de pulhas.

E, todo este tempo, um homem baixote, de grandes collarinhos de pintinhas, procurava romper, erguia os braços, exclamava, n’uma voz supplicante e rouca:

— ­Por quem são, meus senhores... Um momento... Eu tenho experiencia... Eu tenho experiencia!

De repente o vozeirão do Vargas dominou tudo, como um urro de toiro. Diante do jockey, sem chapéo, com a face a estoirar de sangue, gritava-lhe que era indigno de estar alli, entre gente decente! Quando um