Página:Os Maias - Volume 2.pdf/100

Wikisource, a biblioteca livre
90
OS MAIAS

decidiu-o logo, parecendo-lhe desamoravel e mesquinho o ter-lhe suggerido uma esperança, e não lh’a realisar com fervor.

O Domingos entrára com o taboleiro do chá. E emquanto o collocava sobre uma pequena mesa, defronte de Maria Eduarda, ao pé da janella, Carlos, erguendo-se, dando alguns passos pela sala, pensava em começar immediatamente negociações com o Craft, comprar-lhe as collecções, alugar-lhe a casa por um anno, e offerecel-a a Maria Eduarda para os mezes de verão. E não considerava, n’esse instante, nem as difficuldades, nem o dinheiro. Via só a alegria d’ella passeando com a pequena, entre as bellas arvores do jardim. E como Maria Eduarda deveria ser mais grandemente formosa no meio d’esses moveis da Renascença, severos e nobres!

— Muito assucar? perguntou ella.

— Não... Perfeitamente, basta.

Viera sentar-se na sua velha poltrona; e, recebendo a chavena de porcelana ordinaria com um filetesinho azul, recordava o magnifico serviço que tinha o Craft, de velho Wedgewood, oiro e côr de fogo. Pobre senhora! tão delicada, e alli enterrada entre aquelles reps, maculando a graça das suas mãos nas coisas reles da mãi Cruges!

— E onde é essa casa? perguntou Maria Eduarda.

— Nos Olivaes, muito perto d’aqui, vai-se lá n’uma hora de carruagem...