Página:Os Maias - Volume 2.pdf/101

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
91

Explicou-lhe detalhadamente o sitio, — acrescentando, com os olhos n’ella, e com um sorriso inquieto:

— Estou aqui a preparar lenha para me queimar!... Porque se fôr para lá installar-se, e depois vier o calor, quem é que a torna a vêr?

Ella pareceu surprehendida:

— Mas que lhe custa, a si, que tem cavallos, que tem carruagens, que não tem quasi nada que fazer?...

Assim ella achava natural que elle continuasse nos Olivaes as suas visitas de Lisboa! E pareceu-lhe logo impossivel renunciar ao encanto d’esta intimidade, tão largamente offerecida, e decerto mais dôce na solidão d’aldêa. Quando acabou a sua chavena de chá — era como se a casa, os moveis, as arvores fossem já seus, fossem já d’ella. E teve alli um momento delicioso, descrevendo-lhe a quietação da quinta, a entrada por uma rua d’acacias, e a belleza da sala de jantar com duas janellas abrindo sobre o rio...

Ella escutava-o, encantada:

— Oh! isso era o meu sonho! Vou ficar agora toda alterada, cheia d’esperanças... Quando poderei ter uma resposta?

Carlos olhou o relogio. Era já tarde para ir aos Olivaes. Mas logo na manhã seguinte cedo, ia fallar com o dono da casa, seu amigo...

— Quanto incommodo por minha causa! disse ella. Realmente! como lhe hei de eu agradecer?...