Página:Os Maias - Volume 2.pdf/121

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
111

apparecesse na rua de S. Marçal, domingo ao meio dia, para terem uma explicação definitiva antes d’ella partir para Cintra.

— Excellente occasião d’acabar! exclamou Ega, entregando a carta a Carlos, depois de respirar o perfume do papel. Não vás, nem respondas... Ella parte para Cintra, tu para Santa Olavia, não vos vêdes mais, e assim finda o romance. Finda como todas as coisas grandes, como o Imperio Romano, e como o Rheno, por dispersão, insensivelmente...

— É o que eu vou fazer, disse Carlos, começando a calçar as luvas. Jesus! Que mulher massadora!

— E que desavergonhada! Chamar a essas coisas «sacrificios!...» Arrasta-te duas vezes por semana a casa da titi, regala-se lá de extravagancias, bebe champagne, fuma cigarrettes, sobe ao setimo céo, delira, e depois põe dolorosamente os olhos no chão, e chama a isso «sacrificios...» Só com um chicote!...

Carlos encolheu os hombros, com resignação, como se nas condessas de Gouvarinho, e no mundo, só houvesse incoherencia e dólo.

— E que é isso que tu me tinhas a dizer?

Ega então tomou um ar grave. Escolheu lentamente na caixa uma cigarrette, abotoou devagar o jaquetão.

— Tu não tens visto o Damaso?

— Nunca mais me appareceu, disse Carlos. Creio que está amuado... Eu sempre que o encontro,