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OS MAIAS
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— O Evangelho lá o diz bem claro... Ou é a Biblia que o diz...? Não; é S. Paulo... S. Paulo ou Santo Agostinho?... Emfim a authoridade não faz ao caso. N’um d’esses santos livros se affirma que este mundo é um valle de lagrimas...

— Em que a gente se ri bastante, disse Carlos alegremente.

O poeta tornou a encolher os hombros. Lagrimas ou risos, que importava?... Tudo era sentir, tudo era viver! Ainda na vespera elle dissera isso mesmo em casa dos Cohens...

E de repente, estacando no meio da rua, tocando no braço de Carlos:

— E agora por fallar nos Cohens, dize-me uma coisa com franqueza, meu rapaz. Eu sei que tu és intimo do Ega, e, que diabo, ninguem lhe admira mais o talento do que eu!... Mas, realmente, tu approvas que elle, apenas soube da chegada dos Cohens, se viesse metter em Lisboa? Depois do que houve!...

Carlos afiançou ao poeta que o Ega só no dia mesmo da chegada, horas depois, soubera pela Gazeta Illustrada a vinda dos Cohens... E de resto se não podessem habitar, conjuntas na mesma cidade, as pessoas entre as quaes tivesse havido attritos desagradaveis, as sociedades humanas tinham de se desfazer...

Alencar não respondeu, caminhando ao lado de Carlos, com a cabeça baixa. Depois parou de novo, franzindo a testa: