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OS MAIAS

decerto, n’uma d’essas tardes, no Chiado, teria de esbofetear o Cohen. Como elles recolhiam ao Ramalhete, Alencar, já desanuviado, foi acompanhal-os pelo Aterro. E fallou sempre, contando o plano de um romance historico, em que elle queria pintar a grande figura d’Affonso d’Albuquerque, mas por um lado mais humano, mais intimo: Affonso d’Albuquerque namorado: Affonso d’Albuquerque, só, de noite, na pôpa do seu galeão, diante d’Ormuz incendiada, beijando uma flôr secca, entre soluços. Alencar achava isto sublime.

Depois de jantar, Carlos vestia-se para ir á rua de S. Francisco — quando o Baptista veio dizer que o snr. Telles da Gama lhe desejava fallar com urgencia. Não o querendo receber, alli, em mangas de camisa, mandou-o entrar para o gabinete escarlate e preto. E veio d’ahi a um instante encontrar Telles da Gama admirando as bellas faianças hollandezas.

— Você, Maia, tem isto lindissimo, exclamou elle logo. Eu pello-me por porcelanas... Hei de voltar um dia d’estes, com mais vagar, vêr tudo isto, de dia... Mas hoje venho com pressa, venho com uma missão... Você não adivinha?

Carlos não adivinhava.

E o outro, recuando um passo, com uma gravidade em que transparecia um sorriso:

— Eu venho aqui perguntar-lhe da parte do Damaso, se você hoje, n’aquillo que lhe disse, tinha tenção de o offender. É só isto... A minha