Página:Os Maias - Volume 2.pdf/149

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
139

na mão, olhava para elle, aterrado. Uma senhora! Era decerto Maria... Que teria succedido, santo Deus, para ella vir n’uma tipoia, ás nove da noite, ao Ramalhete!

Mandou Baptista, a correr, buscar-lhe um chapéo baixo; e assim mesmo, de casaca, sem paletot, desceu n’uma grande anciedade. No peristyllo topou com Eusebiosinho que chegava, e sacudia cuidadosamente com o lenço a poeira dos botins. Nem fallou ao Eusebiosinho. Correu ao coupé, parado á porta particular dos seus quartos, mudo, fechado, mysterioso, aterrador...

Abriu a portinhola. Do canto da velha traquitana, um vulto negro, abafado n’uma mantilha de renda, debruçou-se, perturbado, balbuciou:

— É só um instante! Quero-lhe fallar!

Que allivio! Era a Gouvarinho! Então, na sua indignação, Carlos foi brutal.

— Que diabo de tolice é esta? Que quer?

Ia bater com a portinhola; ella empurrou-a para fóra, desesperada; e não se conteve, desabafou logo alli, diante do cocheiro, que mexia tranquillamente na fivela d’um tirante.

— De quem é a culpa? Para que me trata d’este modo?... É só um instante, entre, tenho de lhe fallar!...

Carlos saltou para dentro, furioso:

— Dá uma volta pelo Aterro, gritou ao cocheiro. Devagar!

O velho calhambeque desceu a calçada; e durante