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OS MAIAS

um momento, na escuridão, recuando um do outro no assento estreito, tiveram as mesmas palavras, bruscas e colericas, através do barulho das vidraças.

— Que imprudencia! que tolice!...

— E de quem é a culpa? De quem é a culpa?

Depois, na rampa de Santos, o coupé rolou mais silenciosamente no macadam. Carlos então, arrependido da sua dureza, voltou-se para ella, e com brandura, quasi no tom carinhoso d’outr’ora, reprehendeu-a por aquella imprudencia... Pois não era melhor ter-lhe escripto?

— Para quê? exclamou ella. Para não me responder? Para não fazer caso das minhas cartas, como se fossem as de um importuno a pedir-lhe uma esmola!...

Suffocava, arrancou a mantilha da cabeça. No vagaroso rolar do coupé, sem ruido, ao longo do rio, Carlos sentia a respiração d’ella, tumultuosa e cheia d’angustia. E não dizia nada, immovel, n’um infinito mal-estar, entrevendo confusamente, através do vidro embaciado, na sombra triste do rio adormecido, as mastreações vagas de falúas. A parelha parecia ir adormecendo; e as queixas d’ella desenrolavam-se, profundas, mordentes, repassadas d’amargura.

— Peço-lhe que venha a Santa Isabel, não vem... Escrevo-lhe, não me responde... Quero ter uma explicação franca comsigo, não apparece... Nada, nem um bilhete, nem uma palavra, nem um