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OS MAIAS

péga, em casa da Lola Gorda, elle portou-se como um poltrão, mas depois ia-me atrapalhando a vida... É capaz de tudo... Antes d’hontem estava eu a cear no Silva, elle veio sentar-se um bocado ao pé de mim, e começou logo com umas coisas a teu respeito, umas ameaças...

— Ameaças! Que disse elle?

— Diz que te dás ares de espadachim e de valentão, mas has de encontrar dentro em pouco quem te ensine... Que se está ahi preparando um escandalo monumental... Que se não admirará de te vêr brevemente com uma boa bala na cabeça...

— Uma bala?

— Assim o disse. Tu ris, mas eu é que sei... Eu, se fosse a ti, ia-me ao Damaso e dizia-lhe: «Damasosinho, flôr, fique avisado que, d’ora em diante, cada vez que me succeder uma coisa desagradavel, venho aqui e parto-lhe uma costella; tome as suas medidas...»

Tinham chegado ao Price. Uma multidão de domingo, alegre e pasmada, apinhava-se até ás ultimas bancadas onde havia rapazes, em mangas de camisa, com litros de vinho; e eram grossas, fartas risadas, com os requebros do palhaço, rebocado de cáio e vermelhão, que tocava nos pésinhos d’uma voltigeuse e lambia os dedos, d’olhos em alvo, n’um gosto de mel... Descançando na sella larga de xairel dourado, a creatura, magrinha e séria, com flôres nas tranças, dava a volta