Página:Os Maias - Volume 2.pdf/171

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
161

E ainda se demoravam muito tempo, n’uma mudez d’extasi, em que os olhos humidos, trespassando-se, continuavam o beijo insaciado que morrera nos seus labios cançados. Era Niniche que os fazia sahir por fim trotando impacientemente da porta para o divan, rosnando, ameaçando ladrar.

Muitas vezes ao recolherem Maria tinha uma inquietação. Que pensaria miss Sarah d’esta sésta assim enclausurada, sem um rumor, com a janella do pavilhão cerrada? Melanie, desde pequena ao serviço de Maria, era uma confidente: o bom Domingos, um imbecil, não contava: mas miss Sarah?... Maria confessava sorrindo que se sentia um pouco humilhada, ao encontrar depois á mesa os candidos olhos da ingleza sob os seus bandós virginaes... Está claro! se a boa miss tivesse a ousadia de resmungar ou franzir de leve a testa, recebia logo seccamente a sua passagem no Royal Mail para Southampton! Rosa não a lamentaria, Rosa não lhe tinha affeição. Mas, emfim, era tão séria, admirava tanto a senhora! Ella não gostava de perder a admiração d’uma rapariga tão séria. E assim decidiram despedir miss Sarah, régiamente paga, e substituil-a, mais tarde, em Italia, por uma governante allemã, para quem elles fossem como casados, «Monsieur et Madame...»

Mas pouco a pouco o desejo d’uma felicidade mais intima, mais completa, foi crescendo n’elles. Não lhes bastava já essa curta manhã no divan