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OS MAIAS

Carlos beijou longamente os seus bellos olhos pesados, quasi cerrados.

— Adormeci estupidamente, a lêr... Depois, quando entrei pareceu-me ouvir passos na quinta, andei a rebuscar... Era imaginação, tudo deserto.

— Precisavamos ter um cão de fila, murmurou ella, espreguiçando-se.

Sentada á beira do leito, com os braços cahidos e adormentados, sorria da sua preguiça.

— Estás tão fatigada, filha! queres tu que me vá embora ?...

Ella puxou-o para o seu seio perfumado e quente.

— Je veux que tu m’aimes beaucoup, beaucoup, et longtemps...

Ao outro dia Carlos não fôra a Lisboa, e appareceu cedo na Toca. Melanie, que andava espanejando o kiosque, disse-lhe que Madame, um pouco cançada, tinha justamente tomado o seu chocolate na cama. Elle entrou no salão: defronte da janella aberta, sentada no banco de cortiça, miss Sarah costurava, á sombra das arvores.

Good morning, disse-lhe Carlos, chegando-se ao peitoril, todo curioso de a observar.

Good morning, sir, respondeu ella com o seu ar modesto e tímido.

Carlos fallou do calor. Miss Sarah já áquella hora o achava intoleravel. Felizmente a vista do rio, lá em baixo, refrescava...

Sobretudo a noite passada, insistiu Carlos accendendo