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OS MAIAS
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Recolheram pela escada particular de Carlos — que Maria achava «mysteriosa» com aquelles velludos grossos côr de cereja, forrando-a como um cofre, e abafando todo o rumor de saias. Carlos jurou que nunca alli passára outro vestido — a não ser o do Ega, uma vez, mascarado de varina.

Depois deixou-a no quarto, um momento para ir dar ordens ao Baptista: mas quando voltou encontrou-a a um canto do sofá, tão descahida, tão desanimada, que lhe arrebatou as mãos, cheio d’inquietação.

— Que tens, amor? Estás doente?

Ella ergueu lentamente os olhos que brilhavam n’uma nevoa de lagrimas.

— Pensar que tu vaes deixar por mim esta linda casa, o teu conforto, a tua paz, os teus amigos... É uma tristeza, tenho remorsos!

Carlos ajoelhára ao seu lado, sorrindo dos seus escrupulos, chamando-lhe tonta, seccando-lhe n’um beijo as lagrimas que rolavam... Considerava-se ella então valendo menos que a cascata do jardim e alguns tapetes usados?...

— O que eu tenho pena é de te sacrificar tão pouco, minha querida Maria, quando tu sacrificas tanto!

Ella encolheu os hombros, amargamente.

— Eu!

Passou-lhe as mãos entre os cabellos, puxou-o brandamente para o seu seio — e dizia, baixo,