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OS MAIAS

retirava, elles apertavam-se rapidamente a mão por cima das flôres. Nunca Carlos a achára tão linda, tão perfeita: os seus olhos pareciam-lhe irradiar uma ternura maior: na singela rosa que lhe ornava o peito via a superioridade do seu gosto. E o mesmo desejo invadiu-os a ambos, de ficarem alli eternamente, n’aquelle quarto de rapaz, com jantarinhos portuguezes á moda de D. João V, servidos pelo Baptista de jaquetão.

— Estou com uma vontade de perder o comboio! disse Carlos como implorando a sua approvação.

— Não, deves ir... É necessario não sermos egoistas... Sómente não te descuides, manda-me todos os dias um grande telegramma... Que os telegraphos foram unicamente inventados para quem se ama e está longe, como dizia a mamã.

Então Carlos gracejou de novo sobre a sua parecença com a mãi d’ella. E baixando-se a remexer a garrafa de champagne dentro do gelo:

— É curioso não m’o teres dito antes... Tambem tu nunca me fallaste de tua mãi...

Um pouco de sangue roseou a face de Maria Eduarda. Oh, nunca fallára da mamã, porque nunca viera a proposito...

— De resto não havia coisas muito interessantes a contar, acrescentou. A mamã era uma senhora da ilha da Madeira, não tinha fortuna, casou...

— Casou em Paris?

— Não, casou na Madeira com um austriaco