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OS MAIAS

— Baptista! gritou Carlos, sem vacillar mais. Dize ao snr. Ega que estou a jantar, que entre para aqui.

Maria sentára-se, vermelha, dando um geito rapido aos ganchos do cabello, arranjado á pressa, um pouco desmanchado.

A porta abriu-se, — e o Ega parou, assombrado, intimidado, de chapéo branco, de guarda-sol branco, e com um embrulho de papel pardo na mão.

— Maria, disse Carlos, aqui tens emfim o meu grande amigo Ega.

E ao Ega disse simplesmente:

— Maria Eduarda.

Ega ia largar atarantadamente o embrulho para apertar a mão que Maria Eduarda lhe estendia, córada e sorrindo. Mas o papel pardo, mal atado, desfez-se; e uma provisão fresca de queijadas de Cintra rolou, esmagando-se, sobre as flôres do tapete. Então todo o embaraço findou através d’uma risada alegre — emquanto o Ega, desolado, abria os braços sobre as ruinas do seu dôce.

— Tu já jantaste? perguntou Carlos.

Não, não tinha jantado. E via já alli uns ovos molles nacionaes, que o encantavam, enfastiado como vinha da horrivel cozinha do Victor. Oh, que cozinha! Pratos lugubres, traduzidos do francez em calão, como as comedias do Gymnasio!

— Então avança! exclamou Carlos. Depressa, Baptista!... Traze o caldo de gallinha! Oh, ainda