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OS MAIAS

novo e verdadeiro no conchego da sua solidão, e um sabor sempre renovado na repetição dos seus beijos...

— Eu, continuava Ega, erguendo-se, se levasse para longe uma mulher, não era para um lago, nem para a Suissa, nem para os montes da Sicilia; era para Paris, para o boulevard dos Italianos, alli á esquina do Vaudeville, com janellas deitando para a grande vida, a um passo do Figaro, do Louvre, da Philosophia e da blague... Aqui tens tu a minha doutrina!... E ahi temos nós o amigo Baptista com o correio.

Não era o correio. Era apenas um bilhete que o Baptista trazia n’uma salva: e vinha tão perturbado que annunciou «um sujeito, alli fóra, na antecamara, n’uma carruagem, á espera...»

Carlos olhou o bilhete, empallideceu terrivelmente. E ficou a reviral-o, lento e como atordoado, entre os dedos que tremiam... Depois, em silencio, atirou-o ao Ega por cima da mesa.

— Caramba! murmurou Ega, assombrado.

Era Castro Gomes!

Bruscamente Carlos erguera-se, decidido.

— Manda entrar... Para o salão grande!

Baptista apontou para o jaquetão de flanella com que Carlos tinha almoçado, e perguntou baixo se s. exc.ª queria uma sobrecasaca.

— Traze.

Sós, Ega e Carlos olharam-se um instante, anciosamente.