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OS MAIAS
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social parecia-lhe ser este: Carlos até ahi tivera uma bella amante com inconvenientes, e agora tinha sem inconvenientes uma bella amante...

— O que tu deves fazer, meu caro Carlos...

— O que eu vou fazer é escrever-lhe uma carta, remettendo-lhe o preço de dois mezes que dormi com ella...

— Brutalidade romantica!... Isso já vem na Dama das Camelias... Sobretudo é não vêr com boa philosophia as nuances.

O outro atalhou, impaciente:

— Bem, Ega, não fallemos mais n’isso... Eu estou horrivelmente nervoso!... Até logo. Tu jantas em casa, não é verdade? Bem, até logo.

Sahia atirando a porta, quando Ega, agora tranquillo, disse, erguendo-se muito lentamente do sofá:

— O homemzinho foi para lá.

Carlos voltou-se, com os olhos chammejantes:

— Foi para os Olivaes? Foi ter com ella?

Sim, pelo menos mandára a tipoia á quinta do Craft. Ega, para conhecer esse snr. Castro Gomes, fôra metter-se no cubiculo do guarda-portão. E vira-o descer, accender um charuto... Era com effeito um d’esses rastaquouèros que, n’esse infeliz Paris que tudo tolera, veem ao Café de la Paix ás duas horas para tomar a sua groseille, tesos e embrutecidos... E fôra o guarda-portão que lhe dissera que o sujeito parecia muito alegre e mandára o cocheiro bater para os Olivaes...