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OS MAIAS

Põe-te á porta do Central, e espera até que entre aquelle sujeito que aqui esteve... Não, é melhor perguntar!... Emfim, certifica-te de que o sujeito ou voltou ou está no hotel. E apenas estejas bem certo d’isso, volta aqui, á desfilada, n’uma tipoia... Um batedor seguro, que é para me levar depois aos Olivaes!...

Immediatamente, dada esta ordem, serenou. Era já um allivio immenso não ter de escrever a carta, e achar palavras acerbas que a deviam dilacerar. Rasgou o papel devagar. Depois fez o cheque de duzentas libras, ao portador. Elle mesmo lh’o levaria... Oh, decerto, não lh’o atirava romanticamente ao regaço... Deixal-o-hia sobre uma mesa, sobrescriptado a Madame Mac-Gren... E de repente sentiu uma compaixão por ella. Via-a já, abrindo o enveloppe com duas grandes lagrimas, lentas, caladas, a rolarem-lhe na face... E os seus proprios olhos se humedeceram.

N’esse momento Ega, de fóra, perguntou se era importuno.

— Entra! gritou.

E continuou passeando, calado, com as mãos nos bolsos: o outro, em silencio tambem, foi encostar-se á janella sobre o jardim.

— Preciso escrever ao avô a dizer-lhe que cheguei, murmurou Carlos por fim, parando junto da mesa.

— Dá-lhe recados meus.

Carlos sentára-se, tomára languidamente a penna: