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OS MAIAS
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ramo de cravos; — e immediatamente attendeu a Carlos, que pousára a receita sobre a mesa, e sem se apressar, installando-se n’uma poltrona, lhe foi fallando da dieta que devia ter miss Sarah, das colheres de xarope de codeina que se lhe deviam dar de tres em tres horas...

— Pobre Sarah! dizia ella. E é curioso, não é verdade? Veio com o presentimento, quasi com a certeza, que havia de adoecer em Portugal...

— Então vem a detestar Portugal!

— Oh! tem-lhe já horror! Acha muito calor, por toda a parte maus cheiros, a gente hedionda... Tem medo de ser insultada na rua... Emfim é infelicissima, está ardendo por se ir embora...

Carlos ria d’aquellas antipathias saxonias. De resto em muitas coisas a boa miss Sarah tinha talvez razão...

— E v. exc.ª tem-se dado bem em Portugal, minha senhora?

Ella encolheu os hombros, indecisa.

— Sim... Devo dar-me bem... É o meu paiz

O seu paiz!... E elle que a julgava brazileira!

— Não, sou portugueza.

E, durante um momento, houve um silencio. Ella tomára de sobre a mesa, abria lentamente um grande leque negro pintado de flôres vermelhas. E Carlos sentia, sem saber porque, uma doçura nova penetrar-lhe no coração. Depois ella fallou da sua viagem que fôra muito agradavel; adorava andar no mar; tinha sido um encanto a manhã