Página:Os Maias - Volume 2.pdf/266

Wikisource, a biblioteca livre
256
OS MAIAS

de Chopin e Carlos e elle acabavam os charutos á porta do jardim vendo nascer a lua — Ega declarou que, desde o começo do jantar, estava com idéas de casar!... Realmente não havia nada como o casamento, o interior, o ninho...

— Quando penso, menino, murmurou elle mordendo sombriamente o charuto, que quasi todo um anno da minha vida foi dado áquella israelita devassa que gosta de levar bordoada...

— Que faz ella em Cintra? perguntou Carlos.

— Ensopa-se na crapula. Não ha a menor duvida que dá todo o seu coração ao Damaso... Tu sabes o que n’estes casos significa o termo coração... Viste já immundicie igual? É simplesmente obscena!

— E tu adóral-a, disse Carlos.

O outro não respondeu. Depois, dentro, n’um odio repentino da bohemia e do romantismo, entoou louvores sonoros á familia, ao trabalho, aos altos deveres humanos — bebendo copinhos de cognac. Á meia noite, ao sahir, tropeçou duas vezes na rua d’acacias, já vago, citando Proudhon. E quando Carlos o ajudou a subir para a victoria, que elle quiz descoberta para ir communicando com a lua, Ega ainda lhe agarrou o braço para lhe fallar da Revista, d’um forte vento de espiritualidade e de virtude viril que se devia fazer soprar sobre o paiz... Por fim, já estirado no assento, tirando o chapéo á aragem da noite:

— E outra coisa, Carlinhos. Vê se me arranjas