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OS MAIAS

folhagem dos arbustos, fazia esforços anciosos por murmurar algum elogio «á belleza do sitio»; mas escapavam-lhe então inexplicavelmente coisas reles, em calão: «vista catita»! «é pitada»! Depois ficava furioso, coberto de suor, sem comprehender como se lhe babavam dos labios esses ditos abominaveis, tão contrarios ao seu gosto fino d’artista. Quando se sentou á mesa soffria um negrissimo accesso de spleen e mudez! Nem uma controversia que Maria arranjára caridosamente para elle sobre Wagner e Verdi pôde descerrar-lhe os labios empedernidos. Carlos ainda tentou envolvel-o na alegria da mesa — contando a ida a Cintra, quando elle procurava Maria na Lawrence, e em vez d’ella achára uma matrona obesa, de bigode, de cãosinho ao collo, ralhando com o homem em hespanhol. Mas a cada exclamação de Carlos — «Lembras-te, Cruges?», «Não é verdade, Cruges?» — o maestro, rubro, grunhia apenas um sim avaro. Terminou por estar alli, ao lado de Maria, como um trambolho funebre. Estragou o jantar.

Combinára-se para depois do café um passeio pelos arredores, n’um break. E Carlos já tomára as guias, Maria na almofada acabava de abotoar as luvas — quando Ega, que receava a friagem da tarde, saltou do break, correu a buscar o paletot. N’esse mesmo momento sentiram um trote de cavallo na estrada — e appareceu o marquez.

Foi uma surpreza para Carlos, que o não vira durante esse verão. O marquez parou logo, tirando