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OS MAIAS
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Gostava bastante, achava muito bonito este tom azul e branco de cidade meridional... Mas, havia tão poucos confortos!... A vida tinha aqui um ar que ella não pudera perceber ainda — se era de simplicidade ou de pobreza.

— Simplicidade, minha senhora. Temos a simplicidade dos selvagens...

Ella riu.

— Não direi isso. Mas supponho que são como os gregos: contentam-se em comer uma azeitona, olhando o céo que é bonito...

Isto pareceu adoravel a Carlos, todo o seu coração fugiu para ella.

Maria Eduarda queixava-se sobretudo das casas, tão faltas de commodidade, tão despidas de gosto, tão desleixadas. Aquella em que vivia fazia a sua desgraça. A cozinha era atroz, as portas não fechavam. Na sala de jantar havia sobre a parede umas pinturas de barquinhos e collinas que lhe tiravam o appetite...

— Além d’isso, acrescentou, é um horror não ter um quintal, um jardim, onde a pequena possa correr, ir brincar...

— Não é facil encontrar assim uma casa nas condições d’esta e com jardim, disse Carlos.

Deu um olhar ás paredes, ao estuque enxovalhado do tecto — e lembrou-lhe de repente a quinta do Craft, com a sua vista de rio, o ar largo, as frescas ruas de acacias.