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OS MAIAS

nove horas, veio á Toca. As janellas do quarto de Maria conservavam-se ainda cerradas; a manhã clareára; a quinta lavada, meio despida, no ar fino e azul, tinha uma linda e silenciosa graça d’inverno. Carlos passeava, olhando os vasos onde os chrysanthemos floriam, quando retiniu a sineta do portão. Era o toque do carteiro. Justamente elle escrevera dias antes ao Cruges, perguntando se estaria desoccupado para os primeiros frios de dezembro o andar da rua de S. Francisco: e, esperando carta do maestro, foi abrir, acompanhado por Niniche. Mas o correio, n’essa manhã, consistia apenas n’uma carta do Ega e dois numeros de jornal cintados — um para elle, outro para «Madame Castro Gomes, na quinta do snr. Craft, aos Olivaes».

Caminhando sob as acacias, Carlos abriu a carta do Ega. Era da vespera, com a data «á noite, á pressa». E dizia: « — Lê, n’esse trapo que te mando, esse superior pedaço de prosa que lembra Tacito. Mas não te assustes; eu supprimi, mediante pecunia, toda a tiragem, com excepção de dois numeros mais que foram, um para a Toca, outro (oh logica suprema dos habitos constitucionaes!) para o Paço, para o chefe do Estado!... Mas esse mesmo não chegará ao seu destino. Em todo o caso desconfio de que esgôto sahiu esse enxurro e precisamos providenciar! Vem já! Espero-te até ás duas. E, como Iago dizia a Cassio — mette dinheiro na bolsa