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OS MAIAS

o desejava! Antes pendia todo para ella... Pendia todo para ella, n’um enternecimento mais generoso e mais quente — emquanto a sua razão assim arengava, cautelosa e austera. Elle tinha n’aquella alma o seu culto perfeito, n’aquelles braços a sua voluptuosidade magnifica; fóra d’alli não havia felicidade; a unica sabedoria era prender-se a ella pelo derradeiro elo, o mais forte, o seu nome, embora as Cornetas do Diabo atroassem todo o ar. E assim affrontaria o mundo n’uma soberba revolta, affirmando a omnipotencia, o reino unico da Paixão... Mas primeiro mataria o folliculario! — Passeava, esmagava a relva. E todos os seus pensamentos se resolviam por fim em furia contra o infame que babára sobre o seu amor, e durante um instante introduzia na sua vida tanta incerteza e tanto tormento!

Maria ao lado abriu a janella. Estava vestida d’escuro para sahir; e bastou o brilho terno do seu sorriso, aquelles hombros a que o estofo justo modelava a belleza cheia e quente — para que Carlos detestasse logo as duvidas desleaes e covardes, a que se abandonára um momento sob as arvores desfolhadas... Correu para ella. O beijo que lhe deu, lento e mudo, teve a humildade d’um perdão que se implora.

— Que tens tu, que estás tão sério?

Elle sorriu. Sério, no sentido de solemne, não estava. Talvez seccado. Recebera uma carta do Ega, uma das eternas complicações do Ega. E