Página:Os Maias - Volume 2.pdf/283

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
273

precisava ir a Lisboa, ficar lá naturalmente toda a noite...

— Toda a noite? exclamou ella com um desapontamento, pousando-lhe as mãos sobre os hombros.

— Sim, é bem possivel, um horror! Nos negocios do Ega ha fatalmente o inesperado... Tu com effeito vaes a Lisboa?

— Agora, com mais razão... Se me queres.

— O dia está bonito... Mas ha de fazer frio na estrada.

Maria justamente gostava d’esses dias d’inverno, cheios de sol, com um arzinho vivo e arripiado. Tornavam-n’a mais leve, mais esperta.

— Bem, bem, disse Carlos atirando o cigarro. Vamos ao almoço, minha filha... O pobre Ega deve estar a uivar de impaciencia.

Emquanto Maria correra a apressar o Domingos — Carlos, através da relva humida, foi ainda lentamente até ao renque baixo d’arbustos que d’aquelle lado fechava a Toca como uma sebe. Ahi a collina descia, com quintarolas, muros brancos, olivedos, uma grande chaminé de fabrica que fumegava: para além era o azul fino e frio do rio: depois os montes, d’um azul mais carregado, com a casaria branca da povoação aninhada á beira da agua, nitida e suave na transparencia do ar macio. Parou um momento, olhando. E aquella aldeia de que nunca soubera o nome, tão quieta e feliz na luz, deu a Carlos um desejo repentino de socego e