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OS MAIAS

— Talvez não... Quem sabe! Emfim, nós vamos averigual-o com certeza, porque, para terminar a negociação, fiquei de me ir encontrar com o Palma ás tres horas no Lisbonense... E o melhor é vires tambem. Trazes tu dinheiro?

— Se fôr o Damaso, mato-o! murmurou Carlos.

E não trazia sufficiente dinheiro. Tomaram uma tipoia para correr ao escriptorio do Villaça. O procurador fôra a Mafra, a um baptisado. Carlos teve de ir pedir cem mil reis ao velho Cortez, alfaiate do avô. Quando perto das quatro horas se apearam á entrada do Lisbonense, no largo de Santa Justa, o Palma no portal, com um jaquetão de velludo coçado e calça de casimira clara collada á côxa, accendia um cigarro. Estendeu logo rasgadamente a mão a Carlos — que lhe não tocou. E Palma Cavallão, sem se offender, com a mão abandonada no ar, declarou que ia justamente sahir, cançado já de esperar em cima diante d’um grog frio. De resto sentia que o snr. Maia se incommodasse em vir alli...

— Eu arranjava cá o negociosinho com o amigo Ega... Em todo o caso, se os senhores querem, vamos lá p’ra cima para um gabinete, que se está mais á vontade, e toma-se outra bebida.

Subindo a escada lobrega, Carlos recordava-se de ter já visto aquella luneta de vidros grossos, aquella cara balofa côr de cidra... Sim, fôra em Cintra, com o Eusebiosinho e duas hespanholas,