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OS MAIAS
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de revolta?... Damaso alçou para elle os olhos embaciados:

— Embriaguez é com n ou com m?

— Com um m, um m só, Damaso! acudiu Ega affectuosamente. Vai muito bem... Que linda letra você tem, caramba!

E o infeliz sorriu á sua propria letra — pondo a cabeça de lado, no orgulho sincero d’aquella soberba prenda.

Quando findou a cópia foi Ega que conferiu, pôz a pontuação. Era necessario que o documento fosse chic e perfeito.

— Quem é o seu tabellião, Damaso?

— O Nunes, na rua do Ouro... Porque?

— Oh! nada. É um detalhe que n’estes casos se pergunta sempre. Mera ceremonia... Pois amigos, como papel, como letra, como estylo, está d’appetite a cartinha!

Metteu-a logo n’um enveloppe onde rebrilhava a divisa «Sou Forte», sepultou-a preciosamente no interior da sobrecasaca. Depois, agarrando o chapéo, batendo no hombro do Damaso com uma familiaridade folgazã e leve:

— Pois, Damaso, felicitemo-nos todos! Isto podia acabar fóra de portas, n’uma poça de sangue! Assim é uma delicia. E adeus... Não se incommode você. Então o grande sarau sempre é na segunda-feira? Vai lá tudo, hein! Não venha cá, homem... Adeus!

Mas o Damaso acompanhou-os pelo corredor,