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OS MAIAS

mudo, murcho, cabisbaixo. E no patamar reteve o Ega, desafogou outra inquietação que o assaltára:

— Isso não se mostra a ninguem, não é verdade, Ega?

Ega encolheu os hombros. O documento pertencia a Carlos... Mas emfim Carlos era tão bom rapaz, tão generoso!

Esta incerteza, que o ficava minando, arrancou um suspiro ao Damaso:

— E chamei eu áquelle homem meu amigo!

— Tudo na vida são desapontamentos, meu Damaso! foi a observação do Ega, saltando alegremente os degraus.

Quando o calhambeque parou no Jardim da Estrella, Carlos já esperava ao portão de ferro, n’uma impaciencia, por causa do jantar na Toca. Enfiou logo para dentro atropellando o maestro, bradou ao cocheiro que voasse ao Loreto.

— E então, meus senhores, temos sangue?

— Temos melhor! exclamou Ega no barulho das rodas, floreando o enveloppe.

Carlos leu a carta do Damaso. E foi um immenso assombro:

— Isto é incrivel!... Chega a ser humilhante para a natureza humana!

— O Damaso não é o genero humano, acudiu Ega. Que diabo esperavas tu? Que elle se batesse?

— Não sei, corta o coração... Que se ha de fazer a isto?