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OS MAIAS

E Affonso escutava, encantado com aquellas bellas ambições de lucta, querendo partilhar da grande obra como socio capitalista... Mas Ega entendia que o snr. Affonso da Maia devia descer á arena, lançar tambem a palavra do seu saber e da sua experiencia. Então o velho riu. O quê! compôr prosa, elle, que hesitava para traçar uma carta ao feitor? De resto o que teria a dizer ao seu paiz, como fructo da sua experiencia, reduzia-se pobremente a tres conselhos em tres phrases: aos politicos — «menos liberalismo e mais caracter»; aos homens de letras — «menos eloquencia e mais ideia»; aos cidadãos em geral — «menos progresso e mais moral».

Isto enthusiasmou o Ega! Justamente, ahi estavam as verdadeiras feições da reforma espiritual que a Revista devia prégar! Era necessario tomal-as como moto symbolico, inscrevel-as em letras gothicas no frontispicio — porque Ega queria que a Revista fosse original logo na capa. E então a conversação desviou para o exterior da Revista — Carlos pretendendo que fosse azul-claro com typo Renascença, Ega exigindo uma cópia exacta da Revista dos Dois Mundos, n’uma nuance mais côr de canario. E, levados pela sua imaginação de meridionaes, já não era só para agradar a Affonso da Maia que iam levantando e dando fórma áquelle confuso plano.

Carlos exclamava para o Ega, com os olhos já apaixonados: