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OS MAIAS
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Eu faço lá isso!... Se fosse uma acta de duello, uma coisa honrosa, explicações dignas... Mas uma carta em que um homem se declara bebedo! Tu estás a mangar!

Ega, já furioso, franzia a testa. Mas o Neves, com todo o sangue na face, teve ainda uma revolta áquella idéa do Damaso se declarar bebedo!

— Isso não póde ser! É absurdo! Ahi ha historia... Deixa vêr a carta.

E, mal relanceára os olhos ao papel, á larga assignatura floreada, rompeu n’um alarido:

— Isto não é o Damaso nem é letra do Damaso!... «Salcede»! Quem diabo é «Salcede»? Nunca foi o meu Damaso!

— É o meu Damaso, disse o Ega. O Damaso Salcede, um gordo...

O outro atirou os braços ao ar:

— O meu é o Guedes, homem, o Damaso Guedes! Não ha outro! Que diabo, quando se diz o Damaso é o Guedes!...

Respirou com grande allivio:

— Irra, que me assustaste! Olha agora n’este momento, com estas coisas de ministerio, uma carta d’essas escripta pelo Guedes... Se é o Salcede, bem, acabou-se! Espera lá... Não é um gordalhufo, um janota que tem uma propriedade em Cintra? Isso! Um maganão que nos entalou na eleição passada, fez gastar ao Silverio mais de trezentos mil reis... Perfeitamente, ás ordens... Ó Pereirinha, olhe