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OS MAIAS

hora, a comprar uma admissão; e ainda ahi esperou uma eternidade, vendo dentro do postigo duas mãos lentas e molles arranjar laboriosamente os patacos d’um troco.

Penetrava emfim na sala d’espera — quando esbarrou com o Damaso, de chapéo desabado e saccola de viagem a tiracollo. Damaso agarrou-lhe as mãos, enternecido:

— Ó menino! pois tiveste o incommodo?... E como soubeste tu que eu partia?

Carlos não o desilludiu, balbuciando que lh’o dissera o Taveira, que encontrára o Taveira...

— Pois eu estava mais longe d’uma d’estas! exclamou o Damaso. Esta manhã, muito regalado na cama, quando me vem o telegramma... Fiquei furioso! Isto é, imagina tu como eu fiquei, um desgosto assim!...

Foi então que Carlos reparou que elle estava carregado de luto, com fumo no chapéo, luvas pretas, polainas pretas, barra preta no lenço... Murmurou, embaraçado:

— O Taveira disse-me que ias, mas não me disse mais nada... Morreu-te alguem?

— Meu tio Guimarães.

— O communista? o de Paris?

— Não, o irmão d’elle, o mais velho, o de Penafiel... Espera ahi que eu volto já, vou alli ao café encher o frasco de cognac. Com a afflicção esquecia-me o cognac...

Ainda estavam chegando passageiros, esbaforidos,